terça-feira, 18 de agosto de 2009

Acidentes e doenças do trabalho consumiram R$ 46,6 bilhões em 2008.

Para muitas pessoas, o local que deveria ser sinônimo de satisfação profissional e financeira acaba se transformando em fonte de problemas físicos e emocionais. Um incômodo não só para o funcionário, mas para o caixa das empresas. De acordo com o Ministério da Previdência Social, apenas os pagamentos de benefícios e aposentadorias especiais devido a acidentes e doenças do trabalho somaram R$ 11,6 bilhões em 2008. Adicionando despesas na área da saúde, o custo chegou a R$ 46,6 bilhões. Em 2007, foram 580.592 trabalhadores afastados por incapacidade temporária. A cada hora de jornada diária, houve 75 acidentes/doenças reconhecidos pelo INSS. Trinta e um trabalhadores por dia deixaram de voltar ao ambiente profissional em decorrência de invalidez ou morte.

As doenças do trabalho são inúmeras e, de acordo com a presidente do Instituto Brasileiro de Qualidade de Vida, Elizabet Garcia Campos, estão relacionadas, muitas vezes, ao estresse. “Esse problema coloca em risco a saúde dos trabalhadores e gera doenças de fundo psicossomático. O estresse leva o indivíduo a ter um desempenho ruim, baixa moral e absenteísmo”, diz. De acordo com ela, o problema pode gerar até mesmo depressão.

As consequências para o funcionário são inúmeras. Vão da queda de produtividade ao esgotamento físico e mental. Daí para o desenvolvimento de doenças é um pulo. “As empresas precisam detectar a forma de adequar os profissionais aos cargos, medir o nível de satisfação dos trabalhadores, verificar o grau de comunicação e integração de equipes, desenvolver políticas de benefícios e observar as condições ambientais”, ensina Elizabet. Ela conta que até a poluição sonora e o tempo gasto pelo trabalhador para chegar à empresa são fatores que podem levar ao estresse.

Limite

Analista de crédito de uma financeira, Márcia, 28 anos, chegou ao limite no fim do ano passado. “Essa já é uma área naturalmente estressante. Com a crise econômica, você pode imaginar no que se transformou a vida de quem trabalha em financeiras”, diz. Casada e mãe de gêmeas de 4 anos, ela mal conseguia dar atenção às crianças quando chegava em casa, depois de mais de 10 horas no escritório. “A insegurança em relação ao futuro também era grande. Muitos colegas foram demitidos no auge da crise”, conta.

O ambiente de trabalho não contribuía. “Mesmo sabendo que estávamos sob forte pressão, meu chefe se portava de forma grosseira e não dava abertura para ninguém”, diz Márcia. Para dar conta das tarefas e ainda cuidar da casa, adotou uma fórmula pouco recomendada: tomava energéticos pela manhã e remédio controlado para dormir à noite. Não demorou para o organismo reclamar. “Comecei a sentir tremores, taquicardia e qualquer coisa me deixava com vontade de chorar”, diz. Além disso, um exame de sangue detectou que ela estava com nível de glicose acima do normal.

Entre a saúde e o emprego, optou pela primeira. “Conversei com meu marido e concluímos que eu precisava parar. Há três meses, voltei ao trabalho. Estou numa concorrente da minha antiga empresa e, apesar das responsabilidades do cargo, o ambiente é muito melhor”, diz.

Do ponto de vista ergonômico, as condições ambientais inadequadas podem provocar os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) que, de acordo com um cruzamento de dados feito pelo Ministério da Previdência, lideraram, juntamente com os transtornos mentais, os motivos de afastamento de outubro de 2008 a janeiro deste ano.

As LER/DORT são síndromes que atacam os nervos, músculos e tendões, e que atingem principalmente os membros superiores e o pescoço. São degenerativas e acompanhadas de dor, não só por causa da intensidade do trabalho, mas também devido a atividades desempenhadas sob estresse intenso. Os prejuízos vão para o funcionário e para a empresa: segundo o Instituto Nacional de Prevenção às LER/DORT, as companhias gastam R$ 90 mi por ano devido ao afastamento dos trabalhadores afetados pelas síndromes correlatas.

Alerta

A fisioterapeuta Heloísa Guimarães explica que a dor não significa, necessariamente, uma patologia. É, porém, o alerta do corpo para que a pessoa verifique se há algo de errado com ela. Muitas vezes, porém, o trabalhador subestima a sensação e, sem mudar os hábitos, contribui para o surgimento de problemas musculares e circulatórios. “No início, a pessoa sente uma pressão na nuca. Muda a postura, sente alívio. Depois, a dor vai se intensificando e ela nota que só melhora depois de uma noite de sono. A dor fica cada vez mais grave e pode se tornar crônica”, alerta.

Segundo Heloísa, o corpo desenvolve um mecanismo de proteção para “esconder” a dor. E a tendência é que a musculatura e os tendões encurtem ou atrofiem. A fisioterapeuta explica que, além dos cuidados necessários com a postura, é preciso estimular o organismo com exercícios físicos, que podem ser caminhadas, sessões de dança ou musculação. “A diversidade de atividades ajuda o corpo a ficar mais dinâmico. Quem é sedentário com certeza sofre mais”, diz.

Além dos problemas ergonômicos, os funcionários devem ficar atentos aos males respiratórios provocados pelo ar-condicionado. Mudanças bruscas de temperatura podem diminuir a resistência do organismo e torná-lo alvo fácil para infecções. “Mas o maior problema é a higienização. No ar-condicionado, a umidade fica presa na tubulação, o que favorece a proliferação de ácaros e fungos. A pessoa pode ter desde infecções fúngicas a sinusite”, diz a alergista do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, de São Paulo, Iara Mello. Segundo a médica, o ideal é que a manutenção do aparelho seja feita a cada seis meses.

Fonte: Correiobraziliense.com.br



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