quinta-feira, 1 de julho de 2010

Alvenaria estrutural reduz riscos de acidentes de trabalho


No Brasil, o Ministério da Previdência So­cial constatou que durante o ano de 2002 foram registrados 393.071 acidentes de trabalho, sendo 28.484 (7,3% do total) relacionados à indústria da construção. Dessa forma, torna-se importante a busca por alternativas que diminuam os riscos a que estão sujeitos os tra­ba­lhadores da construção civil.

As Normas Regulamentadoras de Saúde e Segurança do Trabalho, bem como os programas de prevenção de riscos, restringem-se às obras de alvenaria convencional, nas quais a execução da estrutura de concreto armado necessita da montagem de fôrmas de madeira, expondo o trabalhador a riscos de acidentes de ­trabalho constantes, tanto na montagem quanto na retirada das fôrmas da estrutura.

As obras de alvenaria estrutural podem dispensar certos itens relativos à existência de riscos e aos equipamentos de proteção, tanto individuais como coletivos, justamente por seu processo de ­execução econômico e racionalizado, que dispensa a utilização de fôrmas de madeira para a concretagem, pois não são utilizadas ­vigas e pilares em concreto armado.

A utilização do sistema construtivo em al­venaria estrutural pode reduzir os índi­ces de acidentes de trabalho por não utilizar fôrmas de madeira?

A alvenaria estrutural é um sistema cons­trutivo utilizado há milhões de anos, inicialmente com blocos de rocha como ele­mentos de alvenaria e a partir do ano 4.000 a.C. com tijolos de argila.

O sistema construtivo estrutural desenvolveu-se ini­cialmente por meio do simples empilha­mento de tijolos ou blocos, em que os vãos eram executados com peças auxiliares, como vigas de madeira ou pedra. Mais tarde foi descoberta uma alternativa para a execução dos vãos: os arcos, que eram construídos por meio do arranjo entre as uni­dades. Assim foram executadas pontes e obras de grande beleza como, por e­xemplo, a parte superior da igreja de Notre Dame, em Paris.

Ao longo dos séculos obras­ ­importantes foram executadas em alvenaria estru­tu­ral, entre elas, o Parthenon, na Grécia, cons­truí­do entre 480 a.C. e 323 a.C., e a Muralha da China, construída no período de 1368 a 1644.Até o final do século XIX a alvenaria pre­dominou como material estrutural, po­rém, devido à falta de estudos e de pesqui­sas na área, não existiam técnicas de racionalização. Os cálculos eram feitos de for­ma empírica, sem garantia da segurança da estrutura, forçando seu superdi­men­sionamento.

Em 1950 surgiram códigos de obras e nor­mas com procedimentos de cálculo na Eu­ropa e América do Norte, acarretando um crescimento marcante da alvenaria estrutural em todo o mundo.

No Brasil, foram construídos os primeiros prédios em alvenaria estrutural na década de 60, com quatro pavimentos em alvenaria armada de blocos de concretono conjunto habitacional "Central Parque da Lapa".A alvenaria estrutural atingiu o auge no Brasil na década de 80, disseminada com a construção dos conjuntos habita­cio­nais, devido ao seu grande potencial de redução de custos. Assim, diversas cons­trutoras e produtoras de blocos investiram nessa tecnologia para torná-la mais vantajosa.

Classificação

A alvenaria estrutural, conforme o doutor em Engenharia Civil, Jefferson Sidney Ca­macho, pode ser classificada quanto ao pro­cesso construtivo empregado, quanto ao tipo de unidade ou ao material utili­za­do.

A alvenaria estrutural armada é o processo construtivo em que, por necessidade estrutural, os elementos resistentes (es­truturais) possuem uma armadura pas­siva de aço. Essas armaduras são dispostas nas cavidades dos blocos que são pos­teriormente preenchidas com micro­concreto (Graute). A alvenaria estrutural armada pode ser adotada em edifica­ções com mais de 20 pavimentos. São normalmente executados com blocos ­vazados de concreto ou cerâmicos. O tamanho do bloco a ser utilizado é definido na fase de projeto, pois é necessária a paginação de cada uma das paredes da edificação.

O processo em que existem nos elementos estruturais somente armaduras com finalidades construtivas, de modo a prevenir problemas patológicos (fissuras, concentração de tensões, etc.), é conhecido como alvenaria estrutural não armada. Esse sistema vem sendo tradicionalmente utilizado em edificações de pequeno porte como residências e ­prédios de até oito pavimentos. O tamanho do ­blo­co a ser utilizado, assim como na alvenaria armada, é definido na fase de projeto, pois também é necessária a paginação de cada uma das paredes da edi­fica­ção. Na alvenaria estrutural não ­armada a análise estrutural não deve acusar esfor­ços de tração.

Já a alvenaria estrutural parcialmente ar­mada configura o processo ­construtivo em que al­guns elementos resistentes são projetados como armados e outros como não armados.Ainda em relação ao processo construti­vo, é chamado de alvenaria estrutural protendida aquele em que existe uma ar­madura ativa de aço contida no elemento resistente.

Quanto ao tipo de unidades, a alvenaria es­trutural pode ser classificada como de tijolos ou de blocos. Em relação ao ma­­terial utilizado, ela pode ser cerâmica ou de concreto.

Existem normas sobre a alvenaria estrutural e blocos de concreto. A NBR 6136/94 trata sobre o bloco vazado de con­creto simples para a alvenaria estrutural. Já a NBR 5712/82 versa sobre o bloco vazado modular de concreto. Outras normas podem ser citadas: NBR 12118/06 (Blocos vazados de concreto simples para alvenaria - Métodos de ensaio), NBR 10837/89 (Cálculo de alvenaria estrutural de blo­cos vazados de concreto), NBR 8798/85 (E­xecução e controle de obras em alvena­ria estrutural de blocos vazados de concreto) e NBR 8215/83 (Prismas de blocos vazados de concreto simples para alvenaria estrutural - Preparo e ensaio à compressão).

Autores: Marcos Paulo Cielo, Aline P. Gomes, Adalberto Pandolfo, Marcele S. Martins, Regis C. da Silva e Sérgio Bordignon

Confira o artigo na íntegra na Edição 222 da Revista Proteção

Ilustração: Beto Soares/Revista Proteção

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