quarta-feira, 16 de junho de 2010

Praia do Forte - A cicatriz no rosto da praia

pela ASAERLA (*)

Desde abril do corrente ano, logo após a atípica ressaca então ocorrida, vem a ASAERLA atuando no intuito de iniciar um projeto tecnicamente abrangente e detalhado sobre o futuro do nosso litoral, sob o duplo aspecto de sua preservação e urbanização. O primeiro plano diretor de Cabo Frio, elaborado e executado em 1841, previa que a rua paralela à praia mais próxima da linha das marés seria a atual Jorge Lóssio ou a Meira Jr., porém foi-se mais tarde avançando um pouco mais e assim por diante, até traçar-se a atual Avenida do Contorno diretamente sobre o cordão de dunas de maré, numa reta secante à curvatura normal obrigatória da praia pré-existente, assim invadindo-a no intuito de posicionar a avenida mais alta e mais próxima do mar.

Vale a pena destacar aqui que o trecho da praia em frente ao bairro Braga onde as dunas estão ainda, a duras penas, preservadas, as mudanças após a ressaca foram imperceptíveis. Mais notável ainda, não se verificou redução da faixa da praia ou quaisquer outros problemas no trecho do Algodoal vizinho imediato da sinistrada área do Malibu, apenas porque aí a pista afasta-se minimamente da orla, preservando assim o cordão de dunas ali ainda existente.

Seria ingenuidade nossa achar que essa ganância imobiliária e errônea visão urbanística, somada ao profundo descaso com estudos da engenharia oceânica, não iria ter um preço. Por sorte não tivemos vítimas.

Em recente reunião a nossa posição foi unânime na questão sobre os procedimentos para resolver o avanço do mar. Não adiantam soluções paliativas, projetadas e executadas por curiosos, ou como foi falado aqui, fazer “puxadinhos”. O problema é complexo e requer estudo por equipe multidisciplinar composta por especialistas, mesmo que seja uma solução emergencial. Só nos resta torcer para que a única solução viável não venha a ser a construção de um brutal quebra-mar de concreto com enrocamento (conforme ocorreu há um século atrás com as praias cariocas da Glória, do Flamengo e de Botafogo engolidas pela “moderna” Av. Beira-Mar), o que viria a constituir uma medonha cicatriz no rosto de uma das mais perfeitas curvaturas de praia conhecidas. Enquanto isso, estamos em negociação avançada com o laboratório de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ para até o final de junho realizarmos um evento que será o ponto de partida para nossa conscientização, preparação e tomada de decisões para as mudanças que estão aí batendo em nossa porta.

Qualquer outro procedimento, fora das recomendações das normas e das técnicas de engenharia existentes, será por nós denunciado à sociedade e ao CREA-RJ, Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Rio de Janeiro, que tem como meta principal proteger a sociedade do mau uso da engenharia. Essa é a nossa função.
Vale lembrar que em um episódio recente a ASAERLA se posicionou firmemente contra essa maneira de querer impor à sociedade, de forma confusa, leis que virão em futuro muito próximo influir decisivamente na nossa qualidade de vida. A função da engenharia é exatamente essa, melhorar a qualidade de vida do ser humano.

A boa ENGENHARIA, em letras maiúsculas, é capaz do inimaginário.

(*) ASAERLA - Associação dos Arquitetos e Engenheiros da Região dos Lagos

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