terça-feira, 14 de outubro de 2014

Mangabeira Unger : Dilma e Aécio, quais são as diferenças? - PARTE 1

Autor: Fernando Brito
versus
O professor Roberto Mangabeira Unger escreveu no dia 13/10/14 na Folha um artigo em que elenca, de forma didática e sucinta, as diferenças de programa entre Dilma Rousseff e Aécio Neves.
É pena que o debate eleitoral, despolitizado por uma onda histérica de acusações e manipulações esteja impedindo que muita gente trate destas que serão as opções reais que nosso país irá fazer.
Porque Mangabeira não é um governista incondicional, como muito menos o é o professor e ex-ministro Luís Carlos Bresser Pereira, que também manifestou seu voto em Dilma embora com muitas críticas à situação econômica.
Como disse em outro post, não estamos diante de uma campanha eleitoral democrática, onde se discutem propostas e caminhos, mas em meio a uma marcha de tomada de poder com o uso da mídia, da Justiça e das instituições em geral para criar um clima de insanidade que, deploravelmente, não pode ser combatido com luvas de pelica.
De qualquer forma, é boa leitura e ajuda a compreender, bem claramente, as direçoes em que o país irá se mover.
Em tese, claro, porque a voracidade do conservadorismo está tão acerba que uma vitória pode gerar um “esparramo” de medidas duras, precipitando uma crise social e econômica  que seria um verdadeiro pesadelo para este país.

Por que votar em Dilma?

Roberto Mangabeira Unger
 O povo brasileiro escolherá em 26 de outubro entre dois caminhos.
As duas candidaturas compartilham três compromissos fundamentais, além do compromisso maior com a democracia: estabilidade macroeconômica, inclusão social e combate à corrupção. Diferem na maneira de entender os fins e os meios. Diz-se que a candidatura Aécio privilegia estabilidade macroeconômica sobre inclusão social e que a candidatura Dilma faz o inverso. Esta leitura trivializa a diferença.
Duas circunstâncias definem o quadro em que se dá o embate. A primeira circunstância é o esgotamento do modelo de crescimento econômico no país. Este modelo está baseado em dois pilares: a ampliação de acesso aos bens de consumo em massa e a produção e exportação de bens agropecuários e minerais, pouco transformados. Os dois pilares estão ligados: a popularização do consumo foi facilitada pela apreciação cambial, por sua vez possibilitada pela alta no preço daqueles bens. Tomo por dado que o Brasil não pode mais avançar deste jeito.
A segunda circunstância é a exigência, por milhões que alcançaram padrões mais altos de consumo, de serviços públicos necessários a uma vida decente e fecunda. Quantidade não basta; exige-se qualidade.
As duas circunstâncias estão ligadas reciprocamente. Sem crescimento econômico, fica difícil prover serviços públicos de qualidade. Sem capacitar as pessoas, por meio do acesso a bens públicos, fica difícil organizar novo padrão de crescimento.
O país tem de escolher entre duas maneiras de reagir. Descrevo-as sumariamente interpretando as mensagens abafadas pelos ruídos da campanha. Ficará claro onde está o interesse das maiorias. O contraste que traço é complicado demais para servir de arma eleitoral. Não importa: a democracia ensina o cidadão a perceber quem está do lado de quem.
1. Crescimento econômico. Realismo fiscal e manutenção do sacrifício consequente são pontos compartilhados pelas duas propostas. Aécio: Ganhar a confiança dos investidores nacionais e estrangeiros. Restringir subsídios. Encolher o Estado. Só trará o crescimento de volta quando houver nova onda de dinheiro fácil no mundo. Dilma: Induzir queda dos juros e do câmbio, contra os interesses dos financistas e rentistas, sem, contudo, render-se ao populismo cambial. Usar o investimento público para abrir caminho ao investimento privado em época de desconfiança e endividamento. Apostar mais no efeito do investimento sobre a demanda do que no efeito da demanda sobre o investimento.
Construir canais para canalizar a poupança de longo prazo ao investimento de longo prazo. Fortalecer o poder estratégico do Estado para ampliar o acesso das pequenas e médias empresas às práticas, às tecnologias e aos conhecimentos avançados. Dar primazia aos interesses da produção e do trabalho. Se há parte do Brasil onde este compromisso deve calar fundo, é São Paulo.

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