quinta-feira, 9 de outubro de 2014

FHC, PSDB de Aecio e a velha elite escravocrata e preconceituosa


A elite brasileira – cujo setor mais significativo vive em São Paulo – nunca engoliu o 
Getúlio Vargas nem o Lula como expressões de amplos setores populares que saem
 do seu controle. Perderam sempre do Getúlio e perdem sempre do Lula.

Aí apelam para a discriminação e o racismo. Nos anos 1950, a UDN chegou a propor o
voto qualitativo. Onde se viu o voto de um engenheiro valer o mesmo que o voto de um
operário, oras? Um valeria 10, o outro valeria 1. Cansados de perder para a maioria
trabalhadora, queriam mudar as regras do liberalismo que eles mesmo pregavam, para ver
 se tinham melhor sorte.

Quanto à linguagem, naquela época um político, Hugo Borghi, qualificou os trabalhadores
 que votavam no Getúlio como “marmiteiros”, de forma depreciativa para quem levava 
comida de casa para o trabalho. Era a forma de discriminar os trabalhadores vinda da
 parte de quem nem trabalhava, menos ainda conhecia o que era uma marmita.

O Getúlio assumiu a expressão, que passou a ser usada positivamente, identificando
 marmiteiro com trabalhador.

A relação dessa elite com o Lula reproduz, em termos cotidianos, o mesmo tipo de clichê e
 de discriminação. Por um lado, tenta passar a ideia de que os setores populares que votam
 no PT foram subornados pelo Bolsa Família e por outras políticas do governo, da mesma
 forma que se fazia em relação ao salário mínimo na época do Getúlio.

Agora FHC vem falar de gente “dos grotões, mal informados”, que por essa razão não
 se renderiam às denúncias e aos argumentos tucanos e seguiriam votando no PT. Aponta
 ele certamente para a população nordestina e as populações das periferias urbanas,
beneficiárias de políticas sociais ou detentoras de um posto de trabalho assalariado e que 
votam concentradamente nos candidatos que sentem identificados com o efeito dessas 
políticas em suas vidas.

Anteriormente, quando essa população nordestina, totalmente abandonada, inclusive pelo
 governo de FHC, votava majoritariamente na direita – na Arena, no PFL e no seu
 sucessor, o DEM –, não era considerada “mal informada”. Quando começa a despertar
 sua consciência, aparecem essas formas discriminatórias.

Como não leem ainda os artigos do FHC, ficam mal informadas, se deixam enganar, subornar, 
ser instrumentalizadas pelo governo e pelos partidos de esquerda. Quando a informação
 chegar devidamente a esses grotões, eles reconhecerão que o melhor governo que o Brasil
 já teve foi o do FHC, os que o sucederam foram empulhações, que distribuíram migalhas,
 para enganar ao povo.

Reproduz-se assim o velho sentimento elitista da contrarrevolução de 1932, que tem como
 ícones, até hoje venerados pela elite paulista, os bandeirantes – caçadores de índios – e
 Washington Luís, famoso por achar que “a questão social é questão de polícia”. 



Dr Emir Sader - Cientista Político da UERJ

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